O olhar da inocência

3° Capítulo - Uma perda irreparável

3° Capítulo - Uma perda irreparável

— Bom dia mamãe! — disse Ana toda alegre entrando no quarto dos seus pais.

— Bom dia, meu anjo. — sussurrou a mãe com a voz fraca, na cama.

Ana gelou, pois a mãe estava diferente, parecia muito pior.

— Oh, mãezinha, vou preparar o leite com hortelã, como a senhora gosta.

— Sim, filha. Obrigado — disse a mãe com a voz baixinha. Mal se conseguia ouvir.

Ana saiu do quarto e o pai entrou.

— Então, meu amor? Vamos sair desta cama? Nós precisamos muito de você! Acho que já descansou demais. — brincou ele com a esposa.

 Em meio às lágrimas ela disse:

— Meu amor, eu já ouvi dizer que o céu é muito lindo, e, eu não duvido... Mas se eu pudesse escolher em ir para o céu ou viver, eu escolheria viver para poder cuidar das nossas filhas. Eu daria tudo para vê-las crescer!

— Oh, meu amor, não fala assim!

E com um nó na garganta, o homem não se conteve e começou a chorar... Via que sua querida esposa não suportava mais a dor que vinha sofrendo... e queria começar a dizer adeus!

— Meu amor, quero te fazer um pedido — a voz fraca, em meio as lágrimas mal se ouvia — (…) quero que você me prometa que vai cuidar bem das nossas filhas e que não vai deixar ninguém maltratá-las!!?

— Para com isso, meu amor. Você vai ficar boa... Vai cuidar das nossas filhas... E vamos viver ainda muito tempo, juntos.

— Promete! Por favor... — insistiu ela.

— Prometo, mas você vai ficar boa.

E os dois chorando se abraçaram. Parecia que Ana e Maria estavam do lado de fora do quarto sofrendo junto com o pai, porque entraram no quarto, chorando e juntaram-se naquele abraço apertado, e assim permaneceram por um longo tempo.

Neste momento, a natureza parecendo entender, começou uma forte chuva.

— Vamos deixar a mamãe descansar meninas? — disse o pai com voz triste.

Com o coração partido e tomada pela imensa dor, Ana saiu do quarto.

O dia estava cinzento; a chuva caía torrencialmente. Os olhos pequenos perdidos em meio a tantas lágrimas, Ana observava a chuva caindo sobre as folhas de bananeira. Como era bom ver a água da chuva deslizar sobre as folhas verdes. Mas nem mesmo este belo espetáculo dado pela natureza, conseguia trazer alegria ao coração da pequena Ana.

A noite chegou como um lençol negro, escurecendo a esperança de dias melhores, e o medo mais uma vez tomava conta de Ana, que no seu íntimo se perguntava:

“— Como seria aquela noite?”

Sabia que a qualquer momento a sua mãe poderia partir... A dor e a angústia tomavam conta do frágil coração da menina, e assim adormeceu.

No dia seguinte, o dia estava lindo, o sol brilhava, os pássaros cantavam. Por instante tudo parecia estar bem. Ana entrou no quarto da mãe, abriu as janelas e sorriu para ela.

— Bom dia, mamãe!

— Bom dia, meu anjinho.

— Ouve mamãe, o cantar dos pássaros... Estão cantando só para você.

A mãe sorriu feliz e, as duas se abraçaram. Nem mesmo a doença poderia impedir aquele momento entre mãe e filha.

De repente, Ana notou algo diferente no semblante da mãe, o desespero tomou conta da menina, que quase gritava agoniada com a apatia da mãe.

— Mamãe o que esta acontecendo? Fala comigo. Eu to aqui! Por favor, não me deixa! Mãe, fala comigo!

Sua mãe havia desmaiado, e, com os gritos de Ana, o pai veio correndo acudir. Ana saiu desembalada do quarto em direção ao canavial; lugar onde muitas vezes fora cenário de muitas brincadeiras, hoje, amparava a menina que não queria voltar para casa. Na sua cabecinha, ela achava que se não voltasse a mãe não partiria sem se despedir.

As horas passaram, até que a irmã lhe encontrou.

— Ana, vamos para casa? — disse a irmã. — Mamãe esta chamando por você.

Foi então que ela resolveu voltar. Em silêncio, Ana entrou no quarto, a mãe estava com os olhos fechados, e por alguns instantes ficou observando a mãe. Tinha o coraçãozinho apertado, os olhinhos inchados de tanto chorar, Ana acariciou o rosto da mãe, que abriu os olhos e, com voz baixa, disse:

— Oi, meu anjinho... Estava sentindo a sua falta. Porque demorou tanto?

Ana só ouvia, sem conseguir dizer nada, pois estava com a voz embargada pelo choro. Apenas acenava com a cabeça.

 Até que a mãe lhe disse:

— Filha, me prometa que vai sempre obedecer ao papai? E que não vai deixar ninguém cortar seu cabelo?

— Sim mamãe, eu prometo! Mas por favor, não me deixa! — disse Ana em meio às lágrimas.

— Minha filha, minha vida, eu te amo muito! Quero que nunca se esqueça que vou continuar te amando sempre! Não precisa chorar, pois vamos nos encontrar um dia. E quando tiver saudades de mim, olhe para o céu, que eu estarei lá, velando por você. Eu te abençôo.

— Não! Não, mamãe! Não me deixa! Eu te amo... Fica comigo! Por favor...

— Adeus, meu amor.

Essas foram às últimas palavras da mãe de Ana que partiu deixando a dor, a tristeza e saudade em seu lugar.

(Mas o que me deixa com lágrimas nos olhos é que nem a morte conseguiu levá-la antes de se despedir da filha.)

Uma doença terrível e cruel chamada câncer, foi quem roubou o direito de Ana e sua família, de conviver com um ser maravilhoso, um anjo em forma de gente, um anjo chamado MÃE.

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