O olhar da inocência

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5° Capítulo - Tudo voltando ao normal

5° Capítulo - Tudo voltando ao normal

Dois anos se passaram. A saudade da mãe ainda era grande, mas Ana contava com o carinho e a cumplicidade da irmã. E assim seguia em frente. Ela, agora com onze anos e a Maria, com quinze, eram muito unidas.

Depois de fazerem as tarefas de casa, as duas iam sempre até o riacho tomar banho, e lá, passavam horas. As águas cristalinas do riacho envolvia ambas no som de uma linda música entoada pelos pássaros. Muitas vezes as duas esperavam o sol se pôr, para depois retornarem para casa.

O dia começava com os raios de sol entrando pelas frestas das janelas, acompanhado com o cheiro suave das flores, pois era primavera... Sábado de primavera. O dia do casamento de uma das suas primas.

Esta era a primeira vez que iam a uma festa, após dois anos da morte de sua mãe.

O pai comprou roupa nova para as duas. O vestido de Maria era verde, como seus olhos, e o de Ana, era com flores azuis, sua cor favorita, assim como os sapados combinavam com os vestidos.

A igreja estava linda, mas o simples fato de estar decorada com rosas brancas fez Ana cair num pranto convulsivo; lembravam as flores favoritas de sua mãe.

Como se esquecer de que muitas vezes, colhia as rosas no jardim de casa para oferecer a mãe? E não havia nenhuma data especial... Somente o prazer que sentia de ver sua mãe feliz, com o olhar brilhando de alegria... Gostava muito de rosas, em especial às brancas. Em meio às lágrimas, Ana viajou em suas lembranças até o último Dia das Mães, no tempo em que a sua mãe ainda era viva...

 

“Ana levantou bem cedo para colher rosas para a mãe. Parecia sentir o cheiro das pétalas molhadas de orvalhos e depois, o choro emocionado da mãe ao receber as flores.”

Quando tocou a música para a entrada da noiva, foi que Ana voltou à realidade. Enxugou as faces molhadas e observou como a prima estava linda! A cerimônia foi rápida, mas muito linda. No baile a animação era geral. Maria irradiava uma beleza muito especial e todos comentavam sobre aquilo, e os rapazes sempre a escolhiam para dançar... Contudo, entre eles, tinha um que olhava para ela com admiração. Pouco tempo depois, Ana viu o rapaz aproximar-se da irmã; apesar de não gostar muito daquele atrevimento, não disse nada ao pai, que distraidamente conversava com o seu tio, pai da noiva.

A festa terminou e todos foram para suas casas. Ana notou que depois do casamento da prima, a irmã mudou completamente o comportamento, parecia estar escondendo algo dela. Evitava toda a sua aproximação, e passou a conversar mais com as primas que tinham a mesma idade que ela.

O que estava acontecendo? Qual seria o segredo que Maria escondia de Ana? Agora quase não tinha tempo para brincar... E sempre queria dormir na casa das primas, e por isso, Ana andava um pouco entristecida.

O tempo foi passando, até que um dia sem querer, Ana ouviu uma conversa da irmã com a prima, e foi então que descobriu o segredo. A sua irmã estava namorando e o pior, é que a fez prometer que não contaria nada para o pai.

Seria este um grande erro? Pobre Ana, como poderia saber se em meio a sua inocência, não via maldade em nada? Pelo fato da irmã estar namorando, Ana passava a maior parte do tempo sozinha, e isso a deixava um pouco triste. Afinal a irmã era a única companhia que possuía. Seu pai trabalhava e quase não tinha muito tempo para dedicar-se a ela.

A semana voou e chegou sexta-feira.

O dia passou rápido, a noite foi chegando de mansinho, banhada pelo brilho do luar que trazia junto à companhia das estrelas, e o delicioso cheiro das flores que se espalhava pelo ar.

Como eram lindas as noites de primavera!

A casa de Ana era simples. Feita de barro branco e tinha uma grande varanda, na qual havia uma enorme rede, onde ela mais gostava de ficar nas noites de luar. Dali que observava a bela dança das folhas de bananeira, e era ali também que ela sempre ficava sentada com a mãe.

Com a coraçãozinho doendo de tantas saudades, em meio a tantas lembranças Ana adormeceu e sonhou com a mãe.

“— Sua mãe estava no meio do canavial com um lindo vestido branco. Parecia um anjo, com um olhar sereno e cheio de ternura. Abraçaram-se. E ela acariciou-lhe o rosto. Como era bom estar ali nos braços da sua querida mãe.”

Foi então que o sonho foi interrompido com o barulho repentino das primas que estavam chegando. E daquele sonho lindo, só restaram pequenas gotas de lágrimas que caiam em formas de saudades.

E por mais que já fizesse dois anos que a mãe havia partido, Ana não conseguia acostumar-se com a ausência dela, e não passava um dia, em que não chorasse antes de dormir. E agora que a irmã estava namorando, e quase não passavam muito tempo juntas, com a solidão, a saudade da mãe parecia aumentar.

Entre as lembranças e a saudades os dias iam passando…

O namoro de Maria ficava cada vez mais sério, deixando Ana preocupada, pois tinha medo que a irmã se casasse e fosse embora.

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